Braille: mais que um sistema de leitura, um avanço na inclusão social

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Dia Mundial do Braille

Braille: mais que um sistema de leitura, um avanço na inclusão social

Uma folha branca e vários pontinhos em alto relevo. Algo que aos olhos de quem enxerga parece não ser nada, mas que nas pontas dos dedos de deficientes visuais se transforma em histórias, informações, contas matemáticas e, mais do que isso, em inclusão social.

O sistema de leitura Braille tem ajudado pessoas cegas desde 1825, quando Louis Braille criou o código. O jovem francês perdeu a visão aos três anos de idade após um acidente, com uma ferramenta, na oficina de couro do pai. Ele perfurou os olhos e, com isso, teve uma infecção grave, resultando em cegueira total.

Aos poucos o Braille foi sendo difundido pelo mundo. O Brasil foi o primeiro país da América Latina a adotar o código. O sistema de leitura foi trazido em 1854 por José Álvares de Azevedo, um carioca, cego de nascença, que resolveu estudar o código na França aos 10 anos de idade.

Incentivo ao Braille

Você consegue imaginar como seria viver num mundo sem cores, sem imagens, sem visão? Agora reflita como seria esse mundo sem informações, conteúdo, histórias… desesperador, não é mesmo?!

“Era assim que deficientes visuais viviam antes da popularização do Braille. Perder a visão ou mesmo nascer sem ela já torna a vida mais complexa. O preconceito e a exclusão social já são grandes desafios para quem não enxerga. Não ter acesso à educação era ainda mais desmotivador”, comenta Thelma Gonsalves, gerente do Visão Hospital de Olhos.

Como forma de incentivar os pacientes cegos, ou com baixa visão, a buscarem conhecimento, Thelma idealizou e criou a Biblioteca Braille no hospital. O espaço é aberto a toda a população e conta com, aproximadamente, 100 livros.

“Nosso objetivo é contribuir para a inclusão social dos deficientes visuais. Mas ter acesso a livros em Braille, realmente, não é fácil. Temos lutado para oferecer cada vez mais obras a eles. Estamos evoluindo aos poucos. Pra nós é muito gratificante vê-los entrando em universidades públicas, trabalhando e tendo uma vida com mais autonomia”, ressalta a gerente.

Para frequentar a biblioteca, ou mesmo doar livros, basta entrar em contato com setor de Baixa Visão do hospital, no telefone 3038-8001, e agendar o horário de estudo ou a entrega da doação.

Um sistema importante para socialização

Aos 15 anos Helena Santana ficou cega em decorrência de glaucoma. Mas desde os 11 anos ela já sabia ler Braille. Isso porque ao perceber que estava perdendo a visão, Helena foi logo aprender o sistema de leitura. Afinal, parar de estudar não era uma opção.

“Nessa época eu já tinha baixa visão progressiva e não conseguia mais ler no sistema comum em tinta. Então, comecei a estudar Braille para me adaptar a minha nova realidade”, conta.

Apaixonada pelos estudos, Helena queria mais. Ela se dedicou intensamente ao Braille e hoje é professora do Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV) de Brasília.

“Me tornei professora de Braille para ter uma profissão e, ainda mais, para ensinar aos outros deficientes visuais sobre a necessidade de aprender esse sistema tão importante para nossa socialização e, também, para nossa educação formal”, comenta.

Tecnologia não substitui o Braille

Quem é mais antenado no mundo tecnológico já deve ter visto as funcionalidades dos smartphones de leitura da tela do celular, transcrição de áudios, etc. Esses recursos vêm ajudando bastante na integração de deficientes visuais às mídias sociais, aplicativos de trocas de mensagens e outras ferramentas.

Entretanto, essa mesma tecnologia tem feito com que jovens cegos não queiram aprender o Braille. Muitos deles preferem o uso dos dispositivos eletrônicos. “Temos hoje aparelhos que fazem leitura de textos em várias línguas, reconhecimento de face, identificação de cédulas de dinheiro. E isso é incrível. Porém, não podemos deixar de incentivar o Braille. Ele é a base de tudo. Ele é a independência acadêmica das pessoas”, ressalta Thelma Gonsalves, gerente do Visão Hospital de Olhos

A professora de Braille, Helena Santana, concorda que as tecnologias assistivas são muito úteis, todavia, não podem substituir o sistema Braille, que é o meio natural de alfabetização de deficientes visuais.

“Na minha opinião, a falta de incentivo ao Braille é um reflexo da desvalorização da educação que vem acontecendo em nosso país. É preciso conscientizar a população cega que só o Braille permite aos deficientes visuais o contato com a grafia das palavras e o uso correto da gramática, por exemplo. Daí sua vital importância”, conclui Helena.

Tags: braille, dia mundial do braille, visaohospitaldeolhos
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